A procura da lei do devir, ou do movimento, e de como ela acaba por
ser a razão
ou unidade da multiplicidade, levou os
pré-socráticos - de Tales a Demócrito - à identificação de um"arché", um princípio ou logos: razão de ser
lógica e ontológica da natureza ou fúsis. Dai eles
serem também designados de fisiólogos; mas não todos no mesmo saco. Não se pode
igualar um Parménides com um Leucipo. Mas a onda é a mesma. A "vaga"
de Sócrates irrompe e afirma: não andes lá por fora mas entra em ti
mesmo e debate-te; procura, sim, aquilo sem o qual nada pode ser procurado;
procura a lei do teu movimento interior, o sustento do teu eu.
Ou seja, cada ser humano nasce munido de
um conjunto de exigências e evidências (de justiça, de verdade, de felicidade,
de amor), e é com elas que "sai" para o mundo e confronta "o que
lhe acontece" com essa "natureza" ou "coração".
Adoptar outro critério é pura alienação, é deixar-se pensar pelos outros.
Nada há de pior do que viver de uma resposta sem que alguma vez se tenha feito
a pergunta.
Trata-se de um processo que não é difícil
mas exige trabalho. Como costumo dizer, para mim difícil é dançar em pontas ou
fazer o pino. Este caminho não é díficil mas é exigente. É um apelo à inteligência, na disciplina do apuramento dos
critérios, do "conhece-te a ti mesmo". Trata-se de um trabalho
pessoal, de uma ascese, de um "começar a julgar". De uma libertação, de se chamar, e
chamar cada coisa pelo nome. Levando ao fundo as perguntas sobre o
sentido da vida, mergulha-se num oceano deconversão, isto é, de
"mudança" do coração.
A filosofia pergunta, pergunta. É só jogar
para fora? Às vezes sim, outras não. Pode haver tantas filosofias quantos os
filósofos. Mas filosofia há sempre. Todos temos algumas ideias sobre a vida,
nem que seja a de não ter ideia nenhuma. É como esta poesia de que deixo um
excerto. Gosto muito dela e é mais que perguntar. Ela é ânimo e matéria para a
"minha" filosofia". "E eu quem sou?", pergunta o
poeta italiano Giacomo Leopardi à LUA, hoje cheia. O
poema chama-se "Canto Nocturno de uma Pastor errante da Ásia".
Tal como o poeta, raramente jogo para
fora. Para canto sim. E do que mais gosto, é mesmo de jogar. Um bom treinador e
uma boa equipa ajudam, mas eu tenho que jogar. Poesia é muito bom; às vezes é
confundida com filosofia.
Che fai tu, luna, in ciel? dimmi, che
fai,/Silenziosa luna?/Sorgi la sera, e vai,/Contemplando i deserti; indi ti
posi./Ancor non sei tu paga/Di riandare i sempiterni calli?/Ancor non prendi a
schivo, ancor sei vaga/Di mirar queste valli?/Somiglia alla tua vita/La vita
del pastore./Sorge in sul primo albore/Move la greggia oltre pel campo, e
vede/Greggi, fontane ed erbe;/Poi stanco si riposa in su la sera:/Altro mai non
ispera./Dimmi, o luna: a che vale/ Al pastor la sua vita,/La vostra vita a voi?
dimmi: ove tende/Questo vagar mio breve,/Il tuo corso immortale?/ .../ che
vuol dir questa/ Solitudine immensa? ed io che sono?
A
resposta está na lua... complexa, misteriosa, mas simples"
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